Como superei meu bloqueio e voltei a dançar ballet.
Sempre gostei de dançar. Desde pequena, adorava me movimentar ao embalo de uma boa música. Perna para um lado e cabeça para outro, me sentia a própria Alex Owens em Flashdance nos churrascos da família. Eu não tinha o Nicky Hurley. Mas, tinha minha mãe que, diante do meu entusiasmo, achou lógico me matricular nas aulas balé. Ela comprou um collant, meia calça e sapatilhas para mim.
O primeiro dia de aula foi horrível. Diante daquelas meninas magras e bem coordenadas, eu longe de ter o biotipo ideal, me sentia completamente deslocada. Além disso, a professora mandava fazer uma diagonal começando pela esquerda, eu ia para direita. Quando era para direita, lá estava eu no lado esquerdo da sala. Na segunda aula, o desconforto continuou. Na terceira piorou. E assim, se passaram duas ou três semanas e o sentimento de inadequação só ia aumentando. Até que um dia, chorei e disse à minha mãe que não queria mais voltar para aquela tortura. Digo que desisti do balé, antes que ele desistisse de mim.
A criança ferida sempre resiste.
Mais de trinta anos depois, encorajada pela minha amiga Carolina Fragnan, resolvei retomar aquela questão. Na primeira aula, aquela menina desajeitada ressurgiu, sem prévio aviso. Sentada no chão fazendo alongamento, ela me olhava através do espelho.
– Mas, onde estás com a cabeça? Te levanta daí e deixa de ser ridícula! – minha criança atacou, me deixando sem reação.
– Olha bem para ti! Tu não tens coordenação, nem corpo de bailarina. – ela continuou. Permaneci em silêncio, só ouvindo. Afinal, os argumentos dela eram bons. Bem relevantes, inclusive.
” Foi, neste momento, que o sentimento de inadequação veio com força total. Tive vontade de abandonar a aula ali mesmo e sair correndo, chorando de novo.”
Foi, neste momento, que o sentimento de inadequação veio com força total. Tive vontade de abandonar a aula ali mesmo e sair correndo, chorando de novo. Por um minuto, me lembrei que agora eu era adulta. Precisava agir como tal. Depois de tomar consciência, acolhi minha criança ferida com carinho e disse:
– Fabizinha, vem cá! Eu sei bem o que tu estás sentindo. Estás machucada e entendo, perfeitamente, que estejas preocupada em nos preservar. – falei a mim mesma com ternura.
– Mas, escuta! Eu não tenho a mínima intenção de me tornar bailarina profissional, de fazer parte do corpo de baile do Theatro Municipal ou de suceder a Ana Botafogo. – me ouvia atenta e em silêncio.
– Eu só quero me divertir, sabe? E gostaria muito que tu fizesses o mesmo. Relaxasse e só aproveitasse a experiência. Caso não queiras, eu te convido a deixar esta sala, imediatamente. – precisei ser firme comigo mesma.
Resistindo um pouco e fazendo beicinho, ela foi baixando a guarda até que resolveu juntar-se a nós. Amanhã temos aula de balé de novo. Está toda empolgada e até já comprou sapatilhas novas.
Por que resistimos tanto?
Steven Pressfield, autor do livro a Guerra da Arte, traz a ideia de que existem duas vidas: a que vivemos e a não vivida – entre as duas está a resistência. Ele diz que esta é a principal e mais tóxica fonte de infelicidade. Explica que o medo, a doença e os vícios são as formas mais comuns dela se apresentar. Agora, se algo te é caro, te é sagrado, a resistência atacará com toda a força que puder. Se for banal, tanto faz. Ela não fará a mínima questão de te perturbar.
Pressfield enfatiza que a resistência não costuma entrar na arena para machucar. É para matar, destruir mesmo. E não pense que só porque conseguiu vencer hoje, escrevendo, pintando, ensaiando ou treinando, ela irá te deixar em paz. Amanhã essa inimiga surgirá como perfeccionismo ou qualquer outra forma que julgue mais eficiente para o momento.
O autor explica que para vencer essa batalha é preciso humildade em reconhecer a potência e persistência desta adversária, disciplina para manter o sonho vivo e um território para prática diária do seu talento. Repito, prática diária! Inicialmente, a quantidade não é tão importante. Mas, a constância é fundamental!
Dica de leitura:
A primeira edição do seu livro em português lançada em 2005 foi esgotada. Felizmente, há uma nova edição chamada “Como superar seus limites internos: Aprendendo a vencer seus bloqueios e suas batalhas de criatividade.” O prefácio do livro é realizado pela filósofa, dramaturga e professora da Organização Nova Acrópole do Brasil Lúcia Helena Galvão.
A nova edição está à venda na versão física e digital pela Amazon. Adquira a sua através do link disponível na imagem do livro ao lado e nos ajude a continuar produzindo conteúdo como estes. Boa leitura!
Conta aqui nos comentários: Qual o sonho que a resistência está te impedindo de realizar?