Unidos pelo Bike Tour SP
Sabe aquele domingo ensolarado, com a temperatura na medida certa te convidando para fazer uma atividade ao ar livre? Pois nesse dia, Hélio acordou superanimado. Afinal, tinha acabado de receber uma indicação para um trabalho como guia de uma família de turistas estrangeiros recém-chegados em São Paulo. Fazia algum tempo que ele estava sem trabalho e as contas já empilhavam em sua mesa. Finalmente, parecia que os ventos começavam a soprar ao seu favor.
Nem bem abriu os olhos, já pulou da cama, tomou sua água morna com limão matinal, receita que aprendeu com um amigo japonês, enquanto preparava sua vitamina à base de leite de amêndoas e frutas. Apressado, passou a mão na velha mochila de guerra, no protetor solar e seguiu para o encontro com os seus clientes.
O ponto de encontro era o hotel onde seus clientes estavam hospedados, na região de Moema, próximo ao Parque Ibirapuera. Lá era também o local de partida do passeio que havia programado para aquela família. De longe, Hélio avistou os instrutores do Bike Tours SP, conversando com Alberto. Anna chegou uns minutos depois, vinda da aula de yoga e trazendo consigo 02 kilos de alimentos não-perecíveis, que seriam o ingresso para realização da atividade.
Os instrutores explicavam que o Bike Tour SP promove estes passeios de bicicleta de forma gratuita, todos os finais de semana e em diferentes pontos da cidade. A realização é por conta de uma equipe de voluntários, que formam grupos entre 10 e 15 pessoas guiados por 02 monitores e através de equipamentos de áudio informam sobre os principais pontos culturais da cidade em português, inglês e, aos domingos, também em libras.
São um total de 06 roteiros que passam pela Avenida Paulista, Ibirapuera, Centro Velho, Centro Novo e Faria Lima. Anna ficou bastante surpresa ao saber o quão inclusivo era este projeto. Além, de arrecadar e doar os mantimentos às instituições beneficentes, a atividade abarca quase todos, desde crianças, idosos, pessoas com deficiências e até aqueles que nunca aprenderam a pedalar. Anna sentiu uma certa satisfação em fazer parte de algo tão significativo, mesmo que por poucas horas.
Hélio começou a ficar inquieto, pois a atividade estava prestes a iniciar e seus clientes ainda não haviam aparecido. Foi até o lobby do hotel, não encontrou ninguém. Se dirigiu à recepção e identificando-se, pediu para que o recepcionista ligasse no quarto deles. Ninguém atendeu. Começou a ficar preocupado, o que teria acontecido? Respirou fundo e foi novamente para área externa onde estavam os demais. Achou que um pouco de ar puro o ajudaria a quietar sua mente turbulenta, naquele momento.
Minutos depois, eis que surge a família vinda do restaurante do hotel onde desfrutavam de um longo e farto café da manhã à moda brasileira. Nosso guia aliviado, rapidamente os saudou, se apresentando em inglês. Para sua surpresa, no grupo familiar formado por um casal, um jovem com deficiência visual e uma senhora idosa, nenhum dos membros falava os idiomas que Hélio dominava – inglês, espanhol e tão pouco, português. E agora?
Suas mãos começavam transpirar e suas pernas a tremer. Durante anos de profissão, ele nunca havia passado por uma situação com essa antes. Estava tão ansioso com a oportunidade do trabalho que, embora tivesse sido informado pela agência que o contratou que se tratava de uma família de chineses, nem pensou em perguntar qual idioma falavam, o inglês lhe parecia o mais óbvio.
De longe Anna percebeu a movimentação, compadecida, pediu licença a instrutora com quem conversava e se aproximou do grupo. Apresentou-se ao Hélio e perguntou se havia algo que ela pudesse ajudar. Enquanto o guia explicava a situação para aquela moça solícita, o pai da família se mostrava bastante nervoso, falando alto ao telefone, como se estivesse brigando com alguém do outro lado da linha. Possivelmente, a agência que havia contratado.
Anna ouviu atentamente ao relato de Hélio. Ela havia feito um módulo do curso de mandarim pela internet, algum tempo atrás. Mas, o seu conhecimento era tão básico que seria impossível sustentar uma conversa, principalmente, com uma linguagem tão específica, como era o caso. De qualquer forma, com o seu mandarim “pão com ovo”, como ela mesma chamava, seu tom de voz calmo e suave, conseguiu tranquilizar um pouco aquele senhor exaltado, informando que buscariam uma alternativa. Fácil para Ana, afinal mediar conflitos era somente uma das habilidades que praticava diariamente em seu turbulento ambiente no mercado financeiro.
O tempo estava passando, a gerente da agência ligava a cada 05 minutos e Hélio ficando cada vez mais desesperado à procura de uma solução. Mesmo sabendo não ser o ideal, pensou na possibilidade de recorrer ao Google Translator ou algum aplicativo que fizesse uma tradução instantânea. Em primeiro lugar, tinha um compromisso com seus clientes e não gostaria de frustrar as expectativas daquela família que havia vindo de tão longe para conhecer o Brasil. Além disso, aquela pilha de contas atrasadas martelava em sua cabeça.
Alberto caminhava em direção ao banheiro quando ouviu aquela tentativa de diálogo em uma língua que lhe parecia bastante familiar. Afinal, havia passado alguns anos em Pequim, pesquisando sobre a História da Arte Chinesa, tema este que não se cansava de estudar. Pediu licença ao grupo, se apresentou e, rapidamente, se prontificou a ajudar, não só durante o passeio, mas também durante todos os outros dias que a família estaria em São Paulo. Hélio seria o guia, Alberto o intérprete e Anna a pacificadora do grupo.
Todos reunidos, vestindo roupas confortáveis, munidos de capacetes e coletes de identificação, estavam prontos para iniciar a aventura e uma linda amizade. Próxima parada: Ilhabela!
Este texto foi produzido com a colaboração de Isa Fumoy.