Encontro no Ibirapuera
A semana tinha sido difícil, mas finalmente era sábado. O sol ameno do começo de outono chegava raiando na manhã fresca. Anna tinha seu lugar preferido para um dia desses. Desde que chegou a São Paulo, o parque do Ibirapuera assumiu esse espaço em seu coração, afinal lá sempre há algo para fazer ou visitar. Uma caminhada era tudo de que precisava para relaxar. Mas dessa vez ela não optou por uma das caminhadas monitoradas que o Parque oferece, pois o que queria era ficar com ela mesma por algumas horas.
Passou pelo Jardim japonês, caminhou até o jardim de esculturas, Anna precisava de uns instantes na área com mais de 6 mil metros quadrados e 30 esculturas a céu aberto no entorno do MAM, o museu de arte moderna. O cheiro da natureza era capaz de fazer sua alma de mulher guerreira ganhar uma trégua. Ali, Anna sabia quem ela era e podia deixar de lado símbolos, números e porcentagens que a perseguiam durante a semana inteira.
Do outro lado da pista por onde caminhava, Anna conseguia enxergar a marquise e lá havia um grupo de jovens sendo guiado por um professor. Ela achou curioso e parou para observar, disfarçando amarrar seu tênis, entreolhou por cima de seus modernos óculos escuros e por alguns instantes quis ser uma daquelas meninas, tão jovens e belas, mas quando lembrou o quão vazia sua alma era nessa época, rapidamente voltou ao presente, ela preferia muito mais a Anna de hoje.
Vindo da direção da pista de skate, Hélio trazia nas mãos alguns panfletos que acabava de buscar na gráfica e nos pés, seu fiel parceiro: seu velho skate com shape autografado e tudo. Ele estava afoito, como sempre, por divulgar sua nova excursão para a galera do parque. Tinha certeza de que dessa vez daria certo, tinha que dar. Não aguentava mais as reviravoltas que sua vida já tinha dado, quem o conhecia, sabia bem que a pouca idade nada tinha em comum com o tanto de experiência que já tinha vivido. Parou por um instante, avistou o mesmo grupo de meninas com o professor. Sim, elas iriam topar essa experiência.
Decidido, chegou um pouco mais perto e ouviu um pouco do que o professor falava. Era um bate papo sobre artes. Ele falava apaixonado, veemente sobre a nova exposição do MAM que eles tinham acabado de visitar. As meninas ouviam com encanto, afinal quem não se encantava pelo jeito do professor Alberto. Sempre tão convincente e seguro, fazia qualquer um se apaixonar pelo que falava. Era um contador de histórias nato.
Em alguns finais de semana ele marcava com seus alunos no Parque, as vezes a aula era no Museu Afro, que na opinião dele era o mais interessante pois tem um acervo gigante com mais de 6 mil peças. Já havia dado aula na OCA e explicava toda a arquitetura de Niemeyer e explorava os 2 andares sempre com exposições que revelavam como é bom morar em São Paulo. Dar aulas de arte “in loco” era uma das coisas que ele mais amava, era o que o fazia levantar da cama todos os dias e almejar o vir a ser de uma nova aurora
Ali, naquele espaço, a céu aberto, com a natureza de testemunha e a arte como cúmplice, Anna, Alberto e Hélio se encontrariam pela primeira vez. Dali para a frente não se separariam mais, ainda não sabiam disso, mas o parque do Ibirapuera selaria essa união e faria todos eles viverem o raro encontro do homem com sua humanidade.