Descobrindo Ilhabela
Os últimos meses tinham sido insanos para Alberto. Paralelo às aulas na universidade, ele tinha assumido a primeira curadoria de sua carreira, uma exposição em um renomado museu de arte na capital fluminense. O elevado nível de exigência, somado a necessidade de pegar a ponte-aérea quase semanalmente e as poucas horas de sono estavam consumindo suas energias. Ele, realmente, precisava de um bom descanso.
Sentado na sala de embarque do aeroporto de Guarulhos, enquanto esperava o voo para o Rio de Janeiro, abriu o laptop e começou a rever os prazos de entrega de cada fase do projeto. Procurava por uma brecha na agenda, pelo menos por um final de semana. Tentou de diversas maneiras, inclusive aumentando a sua carga horária diária para 12 horas de trabalho. O que julgava nada saudável. De qualquer forma, não havia ajuste que o fizesse cumprir o prazo. Desanimado, fechou o computador e foi até a loja de conveniências buscar uma água.
Já no caixa, avistou uma elegante mulher que folheava despretensiosamente uma revista. Aquele tipo físico lhe parecia bastante familiar, mas do ângulo onde estava não conseguia visualizar o rosto dela. Assim, deu uma desculpa qualquer ao caixa para ganhar mais de tempo e verificar sua suspeita.
Sim, era ela mesma. Sua amiga Anna, que viajava à Brasília a trabalho naquele mesmo horário. Foi ao encontro dela e como ainda havia tempo para a decolagem, decidiram tomar um café juntos. Conversar com o Alberto era sempre tão prazeroso que Anna acabou perdendo a noção no tempo. Só se deu conta quando a funcionária da companhia aérea fazia a última chamada para o embarque. Se despediu do amigo com um abraço carinhoso e correu para o portão, deixando sua revista para trás.
Alberto tentou alcançá-la para entregar, mas era tarde demais. Já havia embarcado. O professor
conferiu o relógio, estava bem próximo do seu embarque. Não queria correr o risco de perder aquele voo. Como um bom escorpiano, possuía uma pontualidade britânica.
Já acomodado em sua poltrona, zapeava na programação de entretenimento oferecida a bordo, mas nada despertava o seu interesse. Lembrou-se da revista da amiga. Na capa, uma matéria sobre Ilhabela, destino localizado no litoral norte de São Paulo. Rapidamente, Alberto se envolveu com a leitura.
Ilhabela é conhecida como a Capital Nacional da Vela, devido a sua posição geográfica privilegiada e a presença constante de ventos, o arquipélago sedia grandes eventos e competições náuticas de âmbito nacional e internacional. Como por exemplo, a tradicional Semana Internacional de Vela de Ilhabela, que acontece todos os anos no mês de julho. De qualquer forma, o calendário de regatas se estende durante o ano inteiro, em função do regime de correntes e ventos do Canal de São Sebastião.
A reportagem informava ainda que a secretaria de turismo estava reposicionando o arquipélago
para o foco no turismo de natureza. Afinal, são 42 praias paradisíacas, 09 trilhas, cachoeiras e, principalmente, o Parque Estadual de Ilhabela que possui uma das maiores reservas de Mata Atlântica, com 94% de preservação. Ou seja, destino perfeito para quem precisa equilibrar as energias.
Enquanto Alberto resolvia seus assuntos profissionais no Rio e Anna em Brasília, Hélio acabara de receber um convite para participar do Prêmio Braztoa de Sustentabilidade. Evento, chancelado pela Organização Mundial do Turismo, que reconhece desde 2012 as melhores práticas de turismo sustentável, envolvendo operadores de turismo, agências, meios de hospedagem, entre outros. Este ano, o evento seria sediado pelo município de Ilhabela. Hélio, mais do que depressa, confirmou sua participação e já compartilhou em suas redes sociais.
Em Brasília, Anna estava bastante satisfeita. Afinal, aquela viagem havia gerado um bom negócio.
Depois de muitos meses de negociação, fechara um grande contrato de investimento com um cliente global. Motivo de sobra para comemorar da maneira que mais gostava: viajando. Enquanto aguardava o motorista que a levaria de volta ao aeroporto, confirmou sua presença no retiro organizado pelo seu grupo de yoga. Checando sua timeline descobriu que Hélio estaria em Ilhabela exatamente no mesmo final de semana do retiro. Que agradável coincidência! – pensou ela. Enviou uma mensagem para o amigo para saber mais detalhes sobre a agenda dele e oferecê-lo uma possível carona. Afinal, seria ótimo ter uma boa companhia alto astral como a dele, durante os 200 km de percurso a partir de São Paulo.
No Rio de Janeiro, depois de um dia longo de atividades, o professor entrava para a última reunião do dia, que havia sido solicitada às pressas a pedido do diretor do museu. O motivo da urgência era um problema estrutural na área reservada para exposição. Infelizmente, precisariam adiar pelo menos 01 semana a abertura para correção do problema. De imediato, Alberto sentiu a musculatura do corpo todo enrijecer, a tensão e o medo querendo tomarem conta de seu sistema.
Logo lembrou-se de um exercício de respiração que Anna o havia ensinado: inspirar profundamente, segurar o ar e exalar durante uma sequência de 04 vezes, contando mentalmente até quatro em cada etapa. Enquanto ouvia as considerações técnicas do diretor, ia controlando a entrada de saída do ar de seu corpo de forma consciente. Ao final, já se sentia-se mais calmo e conseguindo pensar claramente. De fato, não havia nada que pudesse ser feito,exceto relaxar. Despediu-se do diretor, se colocando à disposição para o que fosse necessário e assumindo o compromisso de retomar o projeto, tão logo a situação estivesse resolvida.
Alberto saiu preocupado diante daquele imprevisto, mas ao mesmo tempo feliz com a possibilidade de uma pequena folga. Enquanto guardava alguns documentos achou a revista da Ana em
sua pasta. Riu de si mesmo lembrando que naquele mesmo dia pela manhã estava na busca por esta brecha. Para sua surpresa, no final do dia, lá estava ela! Como Anna sempre diz, “o universo está no turbo, Alberto. No turbo!!!” Pensou na amiga com enorme carinho e gratidão pela lição aprendida.
De volta em casa, depois de um banho revigorante, Alberto preparava o jantar. Enquanto isso, Hélio e Anna compravam o vinho que acompanharia a deliciosa refeição. Para sobremesa: o planejamento do final de semana que passariam juntos em Ilhabela.
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